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quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Geógrafo Orlando Ribeiro nasceu há 100 anos

Pensador e humanista português, fundador do Centro de Estudos Geográficos, deixou uma obra vasta.

 

Orlano Ribeiro
Geógrafo, fotógrafo, viajante, pensador e humanista, Orlando Ribeiro (1911-1997) foi uma figura fundamental da cultura portuguesa do século XX. Se estivesse vivo, cumpriria hoje 100 anos de idade. Cientista de um rigor irrepreensível, aliava o seu poder de síntese baseado numa consciente interdisciplinaridade a uma força literária invulgar.

Renovador do estudo da Geografia em Portugal, foi fundador, em 1943 do Centro de Estudos Geográficos (CEG) de Lisboa. Esteve ligado durante mais de trinta anos à Universidade de Lisboa, onde se jubilou em 1981. Deixou uma obra vasta. À CEG legou os seus estudos e a sua biblioteca pessoal, cujo catálogo já se encontra totalmente disponível online. O seu espólio está actualmente integrado Arquivo de Cultura Portuguesa Contemporânea da Biblioteca Nacional.

Primeira edição desta obra singular de Orlando Ribeiro
Primeira edição desta obra singular de Orlando Ribeiro
«Pérola da cultura portuguesa»

Em 1945, Orlando Ribeiro escreveu o livro que é considerado pelo sociólogo António Barreto “uma verdadeira pérola da cultura portuguesa”. No documentário produzido para celebrar o seu centenário, da autoria de Manuel Gomes e António Saraiva - «Orlando Ribeiro, Itinerâncias de um Geógrafo» - o sociólogo diz que «Portugal, o Mediterrâneo e o Atlântico» é “um dos melhores livros de todo o século XX e um dos grandes livros da literatura portuguesa, científica ou não. Maravilhosamente bem escrito, tem precisão, rigor e modéstia académica e universitária”. Para o sociólogo, esta obra devia ser sempre lida nas escolas.

O livro, “o primeiro ensaio de síntese na destrinça de influências e relações que se entrelaçam na terra de Portugal”, como o próprio autor o definiu, fala de um Portugal diversificado, descrevendo-se a sua geografia e relacionando-a com as pessoas que a habitam. O seu talento literário pode distinguir-se em passagens como esta, sobre a Beira Baixa: “O contraste é impressionante entre as serrarias que, pelo norte, barram o horizonte próximo e o planalto a que se não vê o fim: sobre ele, as manchas de verdura vão se tornando cada vez mais desbotadas, indecisas e distantes. Na verdade, é o Alentejo que se anuncia”.

“Nestes lugares, densos de secular presença humana, não pode separar-se, no aspecto das paisagens, o que provém das condições naturais ou o do esforço das gerações. Tudo aparece harmoniosamente combinado, num logo ajustamento do homem ao torrão” .

Por esta altura, Orlando Ribeiro era já um investigador reconhecido internacionalmente e em 1949 organizou XVI Congresso Internacional de Geografia, o primeiro depois da segunda guerra Mundial. No final, foi nomeado vice-presidente da União Geográfica Internacional (UGI).

O seu prestígio era também notório em Portugal. Quando em 1951 começou a erupção vulcânica na Ilha do Fogo, em Cabo Verde, o investigador foi lá, registar o acontecimento. Os habitantes da Ilha acreditavam que ele ia “tapar o vulcão”. Apesar da tarefa impossível, a sua presença parece ter apaziguado os receios da população. E a elevação que nasceu dessa erupção chama-se ainda hoje Monte Orlando.

Em 1957 e 58, com grande cobertura mediática (para a época), observou e registou a erupção vulcânica dos Capelinhos, no Faial, explicando-a através da Radiotelevisão Portuguesa.

Até Fevereiro do próximo ano, o CEG, juntamente com outras entidades portuguesas e estrangeiras assinala o centenário com  diversas iniciativas. O programa pode ser consultado aqui. De referir ainda que o documentário já referido pode ser visto online na página da RTP.

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